INICIATIVAS

Opinião

E os jardins verdes de Rabat aqui tão perto

Há muitos anos que não ia a Marrocos. Tinha na memória a imagem de um país pobre, sujo e caótico que, na verdade, há muitos anos o era. Que erro pensarmos que nós andamos para a frente enquanto os outros ficaram parados. Pior ainda: que erro pensar que nós acompanhamos o ritmo dos outros, quando tão frequentemente vamos ficando para trás.

Fui integrado numa missão da OIM (Organização Internacional para as Migrações), em representação da AHSA (Associação dos Horticultores, Fruticultores e Floricultores dos Concelhos de Odemira e Aljezur). A missão traduziu-se numa iniciativa meritória, na qual coloco grandes esperanças de fortalecer os mecanismos de importação legal e ética de mão de obra sazonal, diversificando as habituais origens e minorando a intervenção de

intermediários tantas vezes responsáveis por alguns dos abusos conhecidos

Nesta, como em todas as atividades, há gente séria e outra que o não é. Mas creio firmemente que uma operação articulada entre empresários e governos, embaixadas e institutos de emprego dos países de origem e de Portugal serão uma garantia de maior defesa de uma mão de obra de que, indiscutivelmente, necessitamos para fazer prosperar a nossa agricultura e povoar as nossas regiões rurais carentes de gente. Quem negar uma e outra necessidade não sabe em que país e em que realidade se encontra enão entende o risco que faz os seus filhos correr.

 

Dois aspetos me marcaram particularmente durante a viagem: i) uma função pública diligente, profissional, modernizada e entendendo as necessidades de resposta (em vez de criar obstáculos) à entidade empresarial; ii) um cuidado com os novos espaços públicos verdes, que devem envergonhar Lisboa e fazer corar as rotundas da Nacional125, no Algarve, ali tão perto.

Quanto ao primeiro aspeto, tenho vindo a acompanhar de perto a batalha inglória dos agricultores do Sudoeste na busca de soluções para os seus problemas, que, sendo muitos, são agravados por algumas entidades públicas paradas no tempo ou sonhando um imaginário que não pode existir. Se, do lado do Ministério da Agricultura, temos notado um empenho claro em ajudar, nas áreas do Ambiente tem vindo a registar-se um bloqueio que tolhe o país e condena as empresas.

O grau de preparação e pragmatismo que encontrámos nos ministérios e instituto de emprego de Marrocos, onde fomos recebidos, ajudou muito a entender o porquê dos campos agrícolas cuidados e a perder de vista que da janela do avião se podem adivinhar. Pousados no chão, a entrada em Rabat (vários quilómetros antes de lá chegar) e os parques e canteiros verdes da cidade fazem-nos questionar para onde vai o dinheiro dos nossos impostos e como é possível que o Palácio da Ajuda esteja envolto num matagal indescritível, que a Av. da Liberdade não consiga ter um canteiro com flores ou que à chegada ao aeroporto de Faro os turistas encontrem as bermas e separadores da estrada cheias de ervas e lixo, começando aí um circuito turístico que o Instituto das Estradas deixa ao abandono.

Permitir, ou tentar, que a delegação de competências nas autarquias trate de camuflar tão grande vergonha na região do país que mais turistas recebe, e que do turismo mais depende, não parece ser uma prioridade regional. Olhemos pois, e apenas, para uns graus de latitude mais abaixo e vejamos o risco que corremos, depois de ultrapassados por quase todos os países da Europa, começarmos a ser ultrapassados por países africanos que há não muito tempo estavam muitas milhas atrás de nós.