INICIATIVAS
Opinião
Entrevista Rute Silva – RCC Portugal

Entrevista
1 – A RCC dedica-se há muitos anos ao recrutamento na origem.
Conhecendo as estatísticas de imigração em Portugal e a população migrante ainda disponível, porque devemos privilegiar o recrutamento na origem?
Porque não temos certeza de que o objetivo das pessoas estrangeiras que chegam ao nosso país seja apenas para ingressar no mercado laboral. Muitas pessoas chegam com a intenção de conseguirem uma entrada mais facilitada no espaço europeu.
Se para uns somos apenas o caminho do meio, para outros seremos, o emprego digno, a segurança e a estabilidade de vida.
Mas é necessário fazer uma seleção, para percebermos o verdadeiro volume de mão-de-obra disponível. Os números só por si, nesta parte concreta são muito pouco representativos.
Quando fazemos um recrutamento na origem, os candidatos têm a opção de escolherem as várias empresas que nós lhes apresentamos, assim como as diferentes condições.
Existindo uma vontade do cidadão em imigrar, este procura informação sobre trabalho e sobre o país. Trata-se de um tipo de imigração que decide e define no país de origem, para onde vai, como vai, o que vai ganhar e quais as condições que terá na chegada a Portugal. Há um planeamento prévio, tanto da parte dos candidatos, como das entidades patronais que os acolhem aqui.
E acresce ainda um elemento fundamental: o visto adequado.
Durante todo o decorrer deste processo, que são, no mínimo, 90 dias, os candidatos recebem formação sobre regras, deveres e direitos em Portugal e informações gerais de ordem social e cultural.
Penso que este ano já se vai sentir alguma falta de mão-de-obra. Em Março já poderá ser visível. Neste momento existem muitas concretizações de legalizações, por conta do fim da Manifestação de Interesse, e muitas destas pessoas, depois de verem a suas situações devidamente regularizadas, vão embora para outros países da EU ou procurarão outro tipo de sector para trabalhar, que não a agricultura. Irão procurar áreas como o turismo ou a indústria.
2 – Na segunda edição do nosso barómetro consultámos os nossos associados sobre a imigração. Quando questionados sobre os principais desafios da contratação de mão de obra imigrante, o segundo fator mais apontado foi a estabilidade da permanência do trabalhador em Portugal.
Para além de fatores mais óbvios como o salário, que outros fatores identifica para esta instabilidade e rotatividade?
A falta de planeamento. E é importante frisar, que ter um planeamento não é só saber de quantas pessoas iremos necessitar em determinado período. É saber se as pessoas que iremos contratar têm aptidão para desenvolverem as funções, estão comprometidas e querem realizar aquele trabalho.
Falo num planeamento mais estratégico e robusto que permita maior eficiência no recrutamento dos recursos e no desenvolvimento das tarefas.
Isto faz com que rotatividade diminua.
E rotatividade não implica só mais burocracias e mudanças, implica tempo, que muitas vezes não existe num pico de campanha.
3 – Sobre a nova lei da imigração, a longo prazo, o que devemos esperar no mercado laboral?
A legislação em vigor vem reforçar o planeamento. Para termos as pessoas certas nos momentos certos é necessário iniciarmos processos muito antes das necessidades imergirem.
Os consulados e embaixadas, são morosos nas suas respostas aos pedidos de vistos e existem atrasos com frequência. É necessário que o Governo olhe para estas questões devidamente e que reforce os recursos humanos nestes locais. O objetivo não é fazer antes do tempo legal devido, mas sim não deixar extrapolar os prazos em demasia e isto é crucial para termos uma imigração regulada que consiga ir de encontro às necessidades das nossas empresas.
4 – Recentemente formalizámos uma parceria de colaboração. De que forma podem a RCC e a AHSA impactar positivamente a região e o setor agrícola.
A AHSA já está a impactar tendo um parceiro da área de negócio do recrutamento internacional. É inovador e significa que a colaboração entre diferentes pontos de vista não nos afasta, só nos beneficia a todos, porque só assim poderemos construir soluções mais abrangentes.
A RCC acredita na possibilidade de promover o início de uma “Certificação” para as empresas do sector do recrutamento. Vê também uma possibilidade de enriquecer a AHSA e as suas empresas associadas no âmbito da formação e da consultoria.
Há muita vontade na realização de eventos que coloquem as pessoas a falar sobre a imigração, de uma forma aberta, na construção de uma nova narrativa, com o objetivo único de encontrarmos soluções, tanto para os trabalhadores estrangeiros, como para as empresas que os acolhem, de uma forma sustentável e equilibrada. É, no fundo, colocarmos os trabalhadores migrantes em comunicação ativa com as empresas e vice-versa – estes dois grandes pilares da economia nacional.
5 – O sector agrícola deve mudar a forma de trabalhar este tema para não perder atratividade quando comparado com outros sectores?
Creio que o setor agrícola evoluiu bastante nestes últimos 12 anos, quer pelas condições de habitação que disponibiliza hoje aos trabalhadores, quer pelo trabalho na sua generalidade. Hoje os ambientes não são tão hostis ou duros.
As empresas na sua generalidade têm vindo a adaptar-se, criando melhores condições de trabalho. Não a um ritmo rápido, mas tem sido ao ritmo possível, com muitos esforços e trabalho, e fazem a diferença por isso.
No entanto, o setor hoteleiro consegue pagar um salário um pouco mais elevado (+20 ou 30€) e dispõe de habitações com maior facilidade, num formato habitualmente mais acolhedor. São vantagens que, embora não pareçam muito distantes das oportunidades oferecidas no sector agrícola, fazem a diferença quando existe a opção de o trabalhador selecionar o sítio onde quer trabalhar.
Estratégia da RCC – No recrutamento na origem, é o trabalhador que escolhe para onde querem ir trabalhar. A RCC mostra atempadamente vídeos com as condições salariais, habitação, as empresas… são as pessoas que escolhem para onde querem ir trabalhar.
Desta forma, previne-se o abandono e a taxa de retenção é muito mais elevada. Sendo o trabalhador a escolher com conhecimento, ganha responsabilidade na fixação no local de trabalho.
O abandono do posto de trabalho está muito ligado com o valor salarial. O abandono por vezes acontece por 10 ou 20€.